- Lei da Gratuidade
- Lei do Cristocentrismo
- Lei do Diálogo
- Lei da comunhão
- Lei da Historicidade
- Lei da Eclesialidade
COMO LER, ESTUDAR E INTERPRETAR A BÍBLIA?
A Bíblia é a palavra de Deus e uma biblioteca , com cerca de 72 livros. Para entender a palavra de Deus é preciso entender o meio pelo qual ela se comunica: o homem. Diz assim a encíclica católica Dei Verbum (DV): “Deus fala na sagrada escritura por meio de homens e com linguagem humana. Portanto o intérprete da sagrada escritura para conhecer o que Deus nos quer comunicar, deve estudar com atenção o que os autores queriam dizer e o que Deus queria dar a conhecer por ditas palavras.” (DV 12). Parafraseando São João (1 Jo, 4,20 ) podemos dizer, que se não se compreende o homem que fala, como se pode compreender ao Deus inefável? Por isso, para uma correta leitura da Bíblia é preciso compreender o contexto cultural onde está inserido o homem e a própria finitude do Homem, relativa à infinitude de Deus, de maneira que a inspiração de modo algum pode ser interpretada como um ditado de Deus, mas antes, fruto da comunhão imperfeita do homem com Deus.
A revelação do próprio Deus através de palavras e atos, são fruto da graça, amor gratuito e imprevisível de Deus, obra de sua bondade e sabedoria. Por este motivo a primeira lei para ler a bíblia é a lei da gratuitidade, ou seja acercar-se da bíblia como um dom imerecido e inesperado.
A segunda lei é a lei do Cristocentrismo. Isto implica que tenhamos sempre a noção que a bíblia, quer no Antigo Testamento (AT), quer no Novo Testamento (NT), nos fala de uma pessoa. Essa pessoa é Cristo, Nosso Senhor. É o Verbo feito carne.
A revelação de Deus na Bíblia é um diálogo de amor, uma conversação ou comunicação de amizade. É uma interpelação à pessoa toda. Por isso a terceira lei é a lei do diálogo: a bíblia diz-me algo se me deixo interpelar, se me deixo incluir num circuito de pergunta resposta, se estou disposto a dizer como Maria:”Faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Deus não se revela na Bíblia para satisfazer a nossa curiosidade, mas para estar na nossa companhia (DV 2). Estar na companhia é desfrutar da presença de Deus e estar em comunhão com Ele. Por isso a quarta lei para me acercar da Bíblia é a lei da comunhão.
Temos também que nos acercar da bíblia, não apenas como um livro, mas como uma história, que se realiza através de atos que são interpretados e levados à sua plena compreensão através das palavras que lemos na bíblia. Por isso a quinta lei é a lei da historicidade. Ou seja a bíblia é uma história que fala, mas também uma palavra que faz história. Neste dinamismo das palavras que são atos e dos atos que são palavras, encontramos a compreensão plena desta lei.
A revelação está confiada à Igreja (DV 10), em forma de tradição e de escritura que constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus (DV 8-9). A sagrada escritura só é levada à sua plena compreensão dentro da tradição da Igreja. Leituras isoladas da bíblia fora do âmbito eclesial da Bíblia só podem levar a heresias, pois também os hereges se socorreram da Bíblia. A bíblia é para ser lida em Igreja e muito principalmente refletida com a Igreja. Reflexões pessoais sobre a Bíblia devem ser feitas, mas devem ser postas à discussão coletiva com a Igreja. Por isso a sexta e última lei é a lei da eclesialidade.
Um dos temas que esteve muito em discussão nas ciências bíblicas é o tema dos gêneros literários, mas que hoje através de intervenções do magistério e de textos eclesiásticos sobre a interpretação bíblica(Divino Afflante Spiritu de Pio XII e A interpretação da Bíblia na Igreja elaborado pela Pontificia comissão bíblica), tornou-se um tema pacifico.
Para sintonizar a leitura com o espírito com que determinado livro da bíblia foi escrito, deve-se conhecer o gênero literário pelo qual é composto, para que não se leia um poema da mesma forma que se lê um texto profético, ou se leia um texto histórico, da mesma forma que se lê um texto poético (algo por vezes muito usual no meio literalista, infelizmente levando a erros de interpretação, que não deixam que a fé, ultrapasse a razão).
Convém esclarecer o que é um gênero literário antes de mais. Um género literário pode descrever-se como um procedimento de expressão próprio dos homens de uma determinada época e em um determinado país, ou um contorno cultural para demonstrar os seus pensamentos e sentimentos.
Muitos sofrimentos foram causados à igreja, pelo fato de ao longo da sua história ter interpretado como textos históricos, textos que apenas pretendiam fazer um anúncio. Foram interpretados como leis, textos neotestamentários que pretendiam aconselhar e exortar.
A Dei Verbum diz a este respeito que :” Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem ser tidos também em conta, entre outras coisas, os «géneros literários». Com efeito, a verdade é proposta e expressa de modos diversos, segundo se trata de gêneros históricos, proféticos, poéticos ou outros. Importa, além disso, que o intérprete busque o sentido que o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretendeu exprimir e de fato exprimiu servindo-se os gêneros literários então usados. Com efeito, para entender retamente o que autor sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos modos nativos de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer àqueles que costumavam empregar-se frequentemente nas relações entre os homens de então” (DV 12).
O Biblista católico português Carreira das Neves diz no seu livro, O que é a bíblia, que: “A história da Bíblia é a história da sua interpretação”. Tão importante como ler a bíblia é procurar usar de todos os meios da inteligência e do conhecimento humano que a própria Igreja põe à nossa disposição, para interpretar a própria Bíblia .
Deus vos abençoe.
Vitor Ribeiro
Colaborador do Blog Cotidiano Espiritual
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