segunda-feira, 13 de junho de 2011

JULGAR: falar do próximo

JULGAR: FALAR DO PRÓXIMO



Tomo a liberdade de refletir, com este texto, sobre o ato de falar do próximo. Apóio-me na visão de que todo ser humano é único, porém inacabado, ou seja, constrói, desenvolve-se a cada dia por meio das situações que vivencia.

Quando falamos sobre alguém, pressupõe-se que construímos um conhecimento sobre essa pessoa. Tal processo é comum, pois é uma característica humana buscar conhecer e compreender tudo o que envolve nossa vida direta e indiretamente. Entretanto, o grande desafio está em sermos humildes e inteligentes a ponto de não considerarmos nossos conhecimentos, os quais nos esforçamos para construir, como verdades absolutas e únicas, renunciando à vaidade do conhecer e da compreensão plena para darmos lugar à vontade e ao olhar iluminado por Deus diante das pessoas e fatos.

Jesus disse: “Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. (Mateus 7, 1-2).  Tal ensinamento é algo mais profundo do que um simples “falar de alguém”. Quantas vezes julgamos em nossos pensamentos sem partilhá-los com alguém e, posteriormente, vemos quão grande foi nossa injustiça e quão diferente está ou é essa pessoa em relação ao que havíamos pensado em tempos anteriores? Dessa forma oculta, estamos também deixando o ensinamento de Jesus de lado, mesmo sem exterioriza-lo.
Quantas vezes nos arrependemos do que pensamos e falamos, mas em nossa mente, o orgulho nos permite ainda pensar: “Bom, agora mudo minha visão porque “fulano” mudou, naquela época estava certo de dizer aquilo. Será?

Cometemos erros, muitos erros com nossos julgamentos. O temor aos ensinamentos de Deus bastaria para nossa mente se calar e nossa língua não pecar no exercício de proferir conceitos construídos de forma fechada e limitada sobre alguém, independente de serem construtivos ou destrutivos.

"Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão”. (Mateus 7, 1-5).

Por meio da nossa razão é possível perceber que, pelo temor e obediência aos ensinamentos de Deus, Ele quer, antes de tudo, não nos permitir ser traídos pelos nossos próprios atos, diante de atitudes que nos condenará e nos ridicularizará por meio de palavras e conceitos fechados e proferidos sobre alguém, pois esse “alguém” está em plena construção de sua existência assim como nós estamos em processo de construção de vida, de humanidade e crescimento, cometendo erros e acertos.

Além do temor, Deus nos incentiva à humildade. A humildade nos faz reconhecermo-nos limitados sobre nossos conhecimentos. Se nós mesmos não nos conhecemos completamente (nossos limites, reações, sentimentos, etc.), “quem dirá” conhecer o outro a ponto de falar com propriedade do mesmo.

Alguns teóricos dizem que as pessoas são, no mínimo, vistas de três dimensões: o que pensam que são, o que os outros pensam que são e aquilo que realmente são. Saberíamos dizer o que pensam que somos? Impossível sabermos isso de todos que falam sobre nós, mas podemos ter alguns resquícios de respostas. E o que pensamos que somos? Isso talvez tenhamos conhecimento. E o que realmente somos? Essa resposta em sua plenitude pertence a Deus.

Por mais que tentemos compreender a verdade sobre alguém, muito nos escaparia. Uma multidão não conseguiu enxergar sequer um valor naquela mulher adúltera que seria apedrejada (cf. João 8, 3-11). Somente Jesus conseguiu atingir um conhecimento pleno daquela mulher, reconhecendo-a em sua totalidade e não somente por alguns fatos que cometera. Cristo enxergou o seu valor, o seu coração, a sua verdade. E com o seu olhar e sua misericórdia não somente a fez acreditar novamente em si própria como fez também os que condenavam perceberem-se em sua totalidade, portanto, também como pecadores.
Por que somente Cristo enxergou a verdade plena? Porque Ele é a Verdade e a Vida (cf. João 14,6). Por isso as pessoas que buscam a Deus preenchem, pouco a pouco, o vazio de suas vidas, por estar em sintonia com aquele que é a vida e a verdade, que nos deu a vida e que nos conhece plenamente.

Todavia, por mais próximo dos ensinamentos e da vontade de Deus que seja nossa trajetória de vida, ainda não conheceremos totalmente a Deus (enquanto estivermos em nossa vida terrena). Com isso, a nossa verdade e, consequentemente, a verdade plena sobre o outro ainda não será possível. Só será possível no regresso de Cristo (I Tessalonicenses 5,23) a nós. “Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá”. (I Coríntios 13,10).

A moção humana em conhecer a verdade, a nossa essência, nossa missão e o por que de nossa existência bem como a verdade sobre os outros é extremamente importante para percebermos o quanto em Deus podemos ter muitas respostas e sermos guiados pelos caminhos da vida plena. Mas é preciso que essa busca incessante de todo homem caminhe junto com a humildade e o temor a Deus para que nossas palavras e julgamentos não nos traiam e condenem.
Para utilizarmos de nossa expressão, não seria melhor falarmos sobre situações e julgarmos fatos ao invés de julgarmos pessoas, as quais em situações diversas expressam-se diferentemente e a cada dia se modificam e crescem por meio de suas vivências?

Que Deus nos conceda a humildade de nos enxergarmos pequenos e limitados diante da Verdade, que busquemos crescer em espírito e sabedoria por meio da busca diária e incessante da verdade em Deus, amando o próximo como a si mesmo e deixando o julgamento para aquEle que o saberá realizá-lo baseado nas verdadeiras Verdade e Justiça.

“Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo, e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem”. (João 5, 26-27).


O olhar de Cristo esteja a cada dia mais em nossos corações e ações,
Reflita, se possível, na letra da música abaixo,
Deus abençoe,

Luciane Vecchio

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Letra e Vídeo da MÚSICA: Humano Demais


Eu fico tentando compreender / O que nos teus olhos pôde ver / Aquela mulher na multidão
Que já condenada acreditou / Que ainda havia o que fazer / Que ainda restara algum valor
E ao se prender em teu olhar / Por certo haveria de vencer
E assim fizeste a vida / Retornar aos olhos dela / E quem antes condenava / Se percebe pecador
Teu amor desconcertante / Força que conserta o mundo / Eu confesso não saber compreender
Sou humano demais pra compreender / Humano demais pra entender / Este jeito que escolheste
De amar quem não merece / Sou humano demais pra compreender / Humano demais pra entender / Que aqueles que escolheste / E tomaste pela mão /
Geralmente eu não os quero do meu lado
Eu fico surpreso ao ver-te assim / Trocando os santos por Zaqueu / E tantos doutores por Simão
Alguns sacerdotes por Mateus / E, mesmo na cruz, em meio à dor / Um gesto revela que tu és
Te tornas amigo do ladrão / Só pra lhe roubar o coração
E assim foste o contrário, / O avesso do avesso / E por mais que eu esforce
Não sei bem se te conheço / Tu enxergas o profundo / Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração / Eu vejo a imagem












Um comentário:

  1. Enquanto formos diferentes de Jesus em santidade, teremos sempre um degrau a subir rumo ao Céu!
    Que Ele seje o nosso guia, ou melhor, O Caminho!(os degraus de santidade)

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